Voto de pesar pelo falecimento de Ruben de Carvalho

A Câmara Municipal de Palmela aprovou, por unanimidade, na reunião pública de 19 de junho, um voto de pesar pelo falecimento de Ruben de Carvalho, um dos principais intelectuais portugueses das últimas décadas, com um percurso de vida marcado pela luta e defesa da Liberdade e dos valores de Abril, pela investigação e produção cultural e artística.
Transcreve-se, abaixo, o texto integral do Voto de Pesar:
“Ruben de Carvalho faleceu no dia 11 de junho de 2019, aos 74 anos, e deixou o panorama político e cultural português mais pobre.
Natural de Lisboa, empenhou-se na luta antifascista desde a adolescência e aos 16 anos fez parte da Direção da Comissão Pró-Associação dos Estudantes do Ensino Liceal e da Comissão Nacional do Dia do Estudante. Mais tarde, já no Ensino Superior, participou na luta académica de 62, integrando a Direção da Comissão Pró-Associação de Estudantes da Faculdade de Letras de Lisboa no ano seguinte. De igual modo, esta intervenção valeu-lhe, desde cedo, o contacto com as prisões de Caxias e do Aljube e múltiplas perseguições, sendo preso pela primeira vez aos 17 anos – algo que se repetiria várias vezes até 1974.
A adesão ao Partido Comunista Português aconteceu em 1970, tendo sido funcionário entre 1974 e 1997 e membro do Comité Central a partir de 1979. Desde sempre, colocou o seu entusiasmo e conhecimento ao serviço do partido e do país, defendendo os valores democráticos antes e depois de abril, com extrema coragem e convicção. Entre 1990 e 1992, foi Membro da Comissão Executiva Nacional e daí até 1996, do Conselho Nacional.
Eleito pelo círculo de Setúbal em 95, foi deputado na Assembleia da República. Foi, também, vereador em Setúbal, em 1997, e em Lisboa, entre 2005 e 2013.
Enquanto jornalista, ficou reconhecido pela sua elevada competência, visão crítica e capacidade organizativa. Começou a sua carreira em 1963, como repórter e redator coordenador do jornal “O Século”, onde passou a editor-paginador em 1971. Entretanto, foi chefe de redação da “Vida Mundial” em 1967 e, em 1974, assumiu igual função no “Avante!”, onde permaneceu até 1995. “Seara Nova”, “O Diário”, “JL”, “A Capital”, “Diário de Notícias” ou “Expresso” são mais alguns dos múltiplos títulos da imprensa nacional que contaram com a sua colaboração. Ruben de Carvalho amou, também, a rádio, tendo dirigido, entre 1986 e 1990, a rádio local “Telefonia de Lisboa” e, na Antena 1, produzia o programa “Crónicas da Idade Mídia” e participou nas emissões d’”Os Radicais Livres”. Passou, também, pela televisão, como membro do Conselho de Opinião da RTP (2002) e, mais tarde, como comentador na SIC Notícias.
A cultura e, em particular, a música eram, sem dúvida, duas das suas grandes paixões, sendo considerado um dos maiores musicólogos nacionais. Membro do Executivo da Comissão Nacional da Festa do Avante desde o primeiro momento, em 1976, envolveu-se fortemente na conceção e organização dos espectáculos musicais, deixando uma marca indelével na Festa, que ultrapassou barreiras políticas e ideológicas e se afirmou como um dos maiores festivais culturais do país.
A partir do seu imenso conhecimento musical, escreveu vários livros e prefaciou outros tantos, e produziu discos e espectáculos para diversos artistas e organizações, estando fortemente associado à canção de Abril. Foi convidado a integrar, também, a Comissão Executiva das Festas de Lisboa e a Comissão Municipal de Preparação de LISBOA 94 - Capital Europeia da Cultura. Foi, ainda, nomeado pela Câmara de Lisboa para assumir a direção artística do Festival das Músicas e Portos, em 99. Era membro do Conselho Diretivo do Centro Cultural de Belém.
De inteligência tranquila, caráter conciliador e energia imensa, Ruben de Carvalho é, incontornavelmente, um dos principais intelectuais portugueses das últimas décadas, com uma vida marcada pela luta e defesa da Liberdade e dos valores de Abril e pela investigação e produção cultural e artística.
Reunida a 19 de junho de 2019, a Câmara Municipal de Palmela lamenta o desaparecimento de Ruben de Carvalho e endereça votos de sentidas condolências à família enlutada e ao Partido Comunista Português.”