Centro Histórico
Rua de Nenhures
As escavações arqueológicas na Rua de Nenhures decorreram nos anos de 1988 e 2003, primeiro na chamada plataforma I e num forno moderno de cerâmica vidrada, e numa segunda fase na confluência com a Travessa de Nenhures. Os trabalhos de 88 revelaram um conjunto estrutural e artefatual, balizado entre os sécs. XIV e XIX.
Na vasta área escavada em 2003 identificou-se, a norte, um complexo habitacional com várias fases de construção e de ocupação, entre o séc. XIII e o séc. XVIII: na parte sudeste a cave de uma casa abobadada, de que restam os arranques dos arcos e uma escadaria em pedra; no sector poente do espaço escavado, onde o afloramento rochoso é visível à superfície, escavaram-se 21 silos. São estruturas de armazenamento de origem muçulmana com sucessivos atributos funcionais (lixeiras, fossas).
Além de algumas cerâmicas muçulmanas do séc. XII (almóadas e anteriores), registaram-se nalguns silos recipientes e moedas do período da reconquista. Este conjunto de silos constitui o mais importante legado cultural dos períodos islâmico e da reconquista, até hoje registado pelos arqueólogos na área urbana de Palmela, fora do castelo.
Mercado Velho e Outros Sítios
Ao longo de duas décadas, foram vários os acompanhamentos de obras e as escavações/sondagens prévias a obras realizados no centro histórico de Palmela: na Rua de Nenhures, nos Paços do Concelho, na casa nº 4 da R. do Castelo, no Antigo Hospital da Misericórdia, no Mercado Velho, na Rua do Salgueiro, na Rua Augusto Cardoso e na casa nº 19 da Rua Coronel Galhardo, entre outros.
Foi notória a variedade de espécies cerâmicas recolhidas, datáveis entre os séculos XIII e XV, além de elementos arquitetónicos, cujo estudo ajudou a traçar um quadro da evolução ocupacional desta área, ao nível dos gostos, dos usos, do poder aquisitivo, do desenvolvimento da malha urbana.
A intervenção arqueológica no Mercado Velho, realizada em 2002, revelou uma importante lixeira de finais do séc. XIV e do séc. XV. O vasto espólio exumado destaca as cerâmicas importadas dos reinos cristãos de Aragão (Paterna e Manises) e de Castela (Sevilha), das Repúblicas Italianas (as apreciadas Majólicas) e do reino muçulmano de Granada. As formas mais comuns e abundantes pertencem porém a produções locais e incluem uma variante decorativa invulgar, com pintura a branco, de influência muçulmana. Pelo estudo dos restos alimentares ficámos a saber que a população de Palmela, na altura, consumia javali, porco, veado, vaca, cabra, ovelha, coelho, galo, lapa, borrego, búzio, mexilhão, vieira, ostra, berbigão, lingueirão entre outras espécies.