25 de Abril e 1.º de Maio - Saudações

A Câmara Municipal de Palmela aprovou, por unanimidade, na reunião pública de 19 de maio, três propostas de Saudação ao 25 de Abril e 1.º de Maio, apresentadas pelas bancadas da CDU, PS e MCCP.
Transcreve-se, abaixo, o texto integral das Saudações:
Saudação CDU
25 de Abril e 1.º de Maio
«A memória da madrugada libertadora de 25 de Abril de 1974 continua viva e vibrante nos corações de quem a testemunhou e experienciou, e constitui um pilar indelével de esperança e coragem que alterou, radicalmente, o rumo da nossa História – e percebemos, à medida que o tempo passa, novos ecos do seu impacto na Europa e no Mundo.
Não obstante, a distância que nos separa, já, desses tempos de enorme mudança, entusiasmo e construção coletiva dificulta a transmissão da mensagem a quem não os viveu. Quase meio século depois, como demonstrar às crianças e jovens que o conjunto de direitos e oportunidades que, hoje, consideram inalienáveis, não existiam ou não estavam ao alcance dos seus avós? Como consciencializar para a extrema importância de exercer e valorizar direitos como o voto, a educação, a participação ou a liberdade de expressão, conquistas, ainda hoje, arredadas de tantos pontos do globo? Como dar a conhecer ou recordar a profunda transformação operada no país e em cada localidade, num tempo em que tudo estava por fazer?
Celebrar, hoje, o aniversário do 25 de Abril de 1974 deve ser mais do que memória e saudade. O desafio reside em fazê-lo presente e tangível, no mundo atual, em defender o conjunto de lutas, valores e conquistas que os homens e as mulheres souberam sonhar e concretizar no Portugal de então, e em pugnar pelo conjunto de direitos constitucionais que continuam por cumprir. É essencial, também, celebrar, de forma ampla e condigna, o 1.º de Maio, dando visibilidade aos problemas, lutas e reivindicações das/os trabalhadoras/es, que produzem riqueza e continuam a ser subvalorizadas/os.
O contexto em que assinalamos mais um Dia da Liberdade é marcado pelo aumento generalizado do custo de vida, a cada dia e de forma volátil. Por sua vez, os salários e as pensões não conseguem acompanhar a inflação e a carga fiscal. O Orçamento de Estado para 2022 concentra-se na redução do défice, transfere para trabalhadoras/es, reformadas/os e micro, pequenas e médias empresas os custos do aumento de bens e serviços, que continuam por regular, e deixa por resolver problemas estruturais do país, em áreas como a saúde, a habitação, a soberania alimentar, o ambiente ou as infraestruturas essenciais ao desenvolvimento do país (variantes, bases logísticas, ferrovia, aeroportos, entre outras).
No que respeita a cenários macro, é difícil olhar para o mundo sem sentir que estamos perante um teste para revisão da matéria dada: os fantasmas da primeira e, em particular, da segunda guerra mundial, do holocausto, da “guerra fria” e da ameça nuclear, das migrações em massa, das ditaduras militares e do ultranacionalismo regressam para nos assombrar e juntam-se a novas ameaças, como as alterações climáticas ou o cibercrime. Qualquer resposta errada poderá conduzir-nos a um ponto sem retorno, e o desinteresse não pode ser opção.
Ao fim de dois anos de pandemia, que nos tolheram e fragilizaram, e com uma nova guerra da Europa, a esperança desgasta-se, mas é nos momentos mais difíceis que encontramos motivação para lutar e fazer melhor. A Revolução dos Cravos mostrou ao mundo que a mudança não precisa de ser sangrenta e não é por acaso que a “Grândola Vila Morena” foi, já, apropriada por tantos povos e tantas causas. A Paz, a Liberdade, a Democracia e o respeito pelos Direitos Humanos são linguagens universais, que falam a todos os corações e devem estar ao alcance de todas as pessoas.
Por tudo o que o 25 de Abril foi e é - e por tudo o que necessitamos, ainda, que seja - a caminhada que fizermos até 2024 (altura em que se assinala meio século da Revolução) terá de ser marcante e ir muito além da evocação. Em conjunto, temos a responsabilidade de cumprir Abril e de continuar a acrescentar-lhe valor. O Município está, já, a trabalhar neste objetivo e apresentará, brevemente, a composição da Comissão de Honra das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, que terá como missão aprofundar a reflexão sobre o tema e envolver toda a cidadania no processo.
Reunida a 19 de abril de 2022, a Câmara Municipal de Palmela saúda o 25 de Abril e o 1.º de Maio, os Militares de Abril e a luta antisfascista, e repudia visões revisionistas da História e o recrudescimento de movimentos fascistas. Saúda, também, quem contribuiu para a concretização das conquistas de Abril e quem luta e trabalha, ainda hoje, para as manter e aprofundar - em particular, no Concelho de Palmela - e convida à participação ativa e cidadã no diversificado programa comemorativo, que terá lugar em todas as freguesias».
Saudação PS
Comemoração do 25 de Abril e celebração do 1º de Maio
«Comemoramos o 48º aniversário da ação histórica dos capitães do MFA, comemoramos a luta dos milhares democratas que durantes anos se viram reprimidos, presos e exilados. Foi esta conjugação que fez daquela madrugada o início de dias de Liberdade e de um futuro diferente.
Porque nunca nos conseguiram calar, porque os outros tiveram medo e tu não, Portugal e os portugueses renasceram, em 25 de abril, da escuridão, da opressão, da censura, do exilio, da prisão. Era esta a madrugada que muitos esperavam, como escreveu a poetisa Sofia de Melo Breyner Andresen:
“esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substâncias do tempo”.
O povo saiu para a rua, era ele que mais ordenava, em cada esquina um amigo, nos rostos misturavam-se lágrimas de alegria com sorrisos de liberdade e todos em uníssono gritavam “O Povo unido jamais seria vencido”. Saíram das bocas gritos livres de vivas à liberdade, à democracia, à libertação dos presos políticos, ao fim da guerra colonial e por uma maior justiça social. Saudaram-se os militares com cravos vermelhos, e o dia começava limpo e inteiro.
Saudamos hoje e sempre a luta política preconizada e protagonizada por muitos homens e mulheres, trabalhadores, estudantes, intelectuais que durante os 48 anos de ditadura se entregaram, na clandestinidade, na prisão, no exilio, muitos com a sua própria vida, à luta contra aqueles que nos faziam viver em servidão.
Nesse dia a democracia tinha o caminho aberto para o voto livre, para a liberdade de imprensa e de expressão, para a liberdade de reunião e associação.
A Revolução dos Cravos permitiu iniciar a construção dos pilares do estado social próprio de uma sociedade mais inclusiva e mais igualitária. Vivemos hoje melhor, embora com muito caminho para andar e esse é o maior desafio da democracia e dos democratas, venham mais cinco, venham todas e todos, não podemos desistir, não podemos ceder.
Construíram-se novas escolas e abriram-se as portas da escola pública a todos e a todas independentemente da cor, do género ou classe social; construiu-se um serviço nacional de saúde; construiu-se comunicação, pelas estradas, pela rádio, pela televisão, pelas novas tecnologias.
Vivemos tempos conturbados, a pandemia, a instabilidade no emprego jovem, os baixos salários, o aparecimento de novas formas de trabalhar, uma crise humana que cria milhares de refugiados, de milhares de mortes, devido a uma invasão ilegal do território da Ucrânia pela Rússia. A guerra está mais uma vez na Europa, numa Europa que se quer de Paz, de Liberdade, Democrata e Fraterna, em que novos e importantes desafios se nos põem e para os quais são necessárias novas capacidades de decisão e de inovação, novos conhecimentos e maior abertura para a mudança.
Estamos em tempos em que a mentira, repetida e divulgada, é uma das formas mais perigosas para a implementação do populismo extremista e que corrói o edifício da democracia e que pela exploração dos mais frágeis provoca neles o medo e a insegurança.
O 25 de Abril tem de continuar a ser de festa. Não podemos perder a utopia que nos acompanhou durantes os primeiros anos de liberdade, e que deverá persistir, porque, e citando Eugénio de Andrade, "o mundo é conduzido por loucos e ambiciosos, que só têm em mira o êxito e o lucro, estão-se nas tintas para as preocupações dos poetas, que são, como toda a gente sabe, seres da utopia, essa utopia sem a qual não há progresso."
As portuguesas e os portugueses são um povo que quer continuar a construir e a aprofundar um futuro melhor e a melhorar os seus direitos.
Palmela é um concelho particularmente marcado por abril e pelos valores da liberdade, da paz e da justiça que o caraterizam. É um concelho do associativismo, da mobilização popular e da participação cívica, de dezenas de associações, clubes e coletividades desenvolvem atividade notável.
Abril valeu a pena e tem que que continuar a valer a pena!
Palmela é também um concelho de gente trabalhadora. E por isso, esta é também a altura para celebrar o 1º de Maio, que mais do que um dia para comemorar, é acima de tudo, um momento para relembrar a importância do mundo do trabalho e dos direitos essenciais para os trabalhadores e para as trabalhadoras, como melhores salários e melhores condições de trabalho, relembrando a importância de uma sociedade mais justa, mais solidária e mais igualitária.
Apesar da evolução positiva das últimas décadas no que toca aos direitos de quem trabalha, continuamos a estar ainda longe da média europeia em termos salariais.
Para não falarmos de situações gritantes emergentes no contexto laboral, e que o recurso massivo do regime de Teletrabalho veio agravar.
Bem sabemos que o mundo atravessa, a todos os níveis, os efeitos nefastos de uma pandemia e de uma guerra, e que isso terá repercussões ainda mais gravosas na vida dos trabalhadores e das trabalhadoras.
Por tudo isto, este é o momento atual de saudarmos ainda com mais força o 1º de Maio, o Dia Internacional do Trabalhador, e de simbolicamente demonstrar a importância de salvaguardar a manutenção dos direitos e garantias essenciais dos trabalhadores e das trabalhadoras portuguesas, e dos trabalhadores e trabalhadoras deste concelho em particular.
Saudemos então o 1º de Maio, com a esperança de que a luta daqueles e daquelas que nos antecederam, mantenha viva a importância dos direitos, deveres, liberdades e garantias dos homens e das mulheres que trabalham, reconhecendo a necessidade de criar condições condignas de trabalho para todos e para todas.
Viva o 25 de Abril.
25 de Abril Sempre!
Viva o 1º de Maio!».
Saudação MCCP
25 de Abril, 48 de Liberdade
«Aconselharam-me a que na minha intenção no aniversário da revolução do 25 de Abril, escrevesse “fora da caixa” e evitasse falar daquela madrugada de 1974, pois as pessoas já estavam “cansadas”.
Mas eu não posso, nem quero, ignorar aquele dia que nos trouxe a liberdade e a possibilidade de dar-mos as nossas opiniões, sobre qualquer assunto, sem ter que olhar para o lado, não fosse um PIDE, ou um “bufo” estar-nos a ouvir!
Na verdade, já passaram 48 anos e felizmente continuamos em democracia. Mas olhando ao que se passa por esse Mundo fora e mesmo na velha Europa, incluindo Portugal, quando vemos os extremismos populistas a crescer, apenas podemos tirar uma conclusão: a democracia não é uma realidade adquirida para todo o sempre, tem que ser alimentada, tem que ser regada como uma qualquer flor, por exemplo um cravo! Deixem-se citar, mais uma vez, Winston Churchill: “a democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros”.
A democracia enquanto sistema político é levada à prática por homens e mulheres, que infelizmente ainda estão muito longe da perfeição, dai os problemas que vemos todos os dias acontecer, mesmo nos países com sistemas democráticos, como Portugal. É a pobreza, é a corrupção, é o elevado grau de iliteracia, é o desencanto com a política, de que os elevados graus de abstenção em actos eleitorais são um exemplo, são as desigualdades sociais, apenas para dar alguns exemplos.
Estas são algumas das razões pelas quais tenho e quero sempre lembrar-me e honrar a memória de todos aqueles que lutaram, sofreram e muitos morreram, para que todos nós pudéssemos estar aqui e agora a falar livremente.
Cabe-nos a todos nós, nomeadamente, aqueles que rejubilaram naqueles primeiros dias de libertação, passar a palavra aos mais novos, da necessidade de continuarmos este caminho de contínua construção da democracia.
Viva o 25 de Abril! Viva a Liberdade!»