Dolores de Matos - Município aprova Voto de Pesar
A Câmara Municipal de Palmela aprovou, na reunião realizada a 21 de agosto, um voto de pesar pelo falecimento de Dolores de Matos, mais conhecida por Lola, sublinhando o seu grande contributo para o panorama cultural local.
O voto de pesar recorda Lola como uma mulher multifacetada, que foi atriz, cantora, formadora, encenadora, realizadora, criadora e produtora, destacando o impulso que deu, em 1999, ao nascimento do projeto FIAR - o primeiro Festival de Artes de Rua a acontecer em Portugal.
Transcreve-se, abaixo, o texto integral do voto de pesar:
«Dolores de Matos - a Lola, assim conhecida entre colegas e amigas/os - faleceu a 4 de agosto, com 62 anos, vítima de doença. A cultura da região e do país perdeu, assim, uma fervorosa dinamizadora, reconhecida pela imensa paixão que colocava em todos os projetos em que se envolvia.
Na juventude, frequentou o Liceu de Elvas, o Colégio Luso Britânico e tirou o curso de Atores e Animadores no CENDREV (Centro Dramático de Évora). Foi por essa altura que iniciou a sua carreira, na Casa da Cultura das Caldas da Rainha, dividindo-se entre o teatro, a música e a produção.
Entre 1982 e 1993, trabalhou na Câmara Municipal de Setúbal, onde teve a seu cargo os projetos de Educação pela Arte e, em 1994, foi requisitada pelo Município de Palmela, como responsável pela programação do Cineteatro S. João e dos espaços públicos. Nasceram, assim, as “Noites de Verão”. Esta apetência pelo trabalho artístico em espaço público, numa aproximação aos lugares, a novos públicos e ao cruzamento de diversas áreas e experiências artísticas, foi aprofundada entre 1997 e 1999, no âmbito de uma requisição pela Parque Expo, S.A., enquanto Coordenadora do Gabinete de Operações Artísticas da Expo 98.
No seu regresso a Palmela, em 1999, impulsionou o nascimento do projeto FIAR - o primeiro Festival de Artes de Rua a acontecer em Portugal, após a Expo - do qual permaneceu Diretora, e em 2000, foi fundada a FIAR, Associação Cultural, estrutura coorganizativa do festival, em parceria com o Município e o Teatro O Bando, para a qual foi destacada, desempenhando funções de diretora artística e presidente da direção. O FIAR fez escola, trazendo um novo olhar sobre as artes performativas e a rua como palco privilegiado para as artes, e marcou a vida cultural da região, criando oportunidades para novos criadores, promovendo sinergias inéditas entre artistas nacionais e internacionais de renome e os grupos locais e abrindo as portas de outros palcos e de certames internacionais a várias produções concebidas nas ruelas do nosso Centro Histórico.
Em 2002, nasceram “As Avózinhas”, projeto de teatro comunitário composto por um grupo de mulheres de Palmela, de idade maior e alma jovem que, sob a direção da Lola, abraçaram desafios inesperados e trabalharam com dramaturgos e encenadores profissionais, representando o concelho em diversos festivais artísticos. Um trabalho muito interessante, com a capacidade de sublinhar o poder transformador da arte e de nos fazer refletir sobre os preconceitos acerca da idade e do envelhecimento. De igual modo, o trabalho com a Associação de Idosos de Palmela e os Grupos Corais “Ausentes do Alentejo” e 1.º de Maio do Bairro Alentejano resultou em parcerias profícuas, que levaram o nome de Palmela e a sua cultura mais longe.
O ensino ocupou, também, uma fatia importante da sua vida, tendo lecionado Expressão Dramática na Academia de Dança Contemporânea de Setúbal, Expressões na Escola Profissional Bento de Jesus Caraça e, mais recentemente, Gestão de Festivais num curso de Pós-Graduação do Instituto Superior Piaget.
No seu longo percurso profissional, seria imperdoável esquecer a atividade musical, por exemplo, ao serviço do grupo “Disto & Daquilo”, na década de 80, que se reuniu em 2014 para assinalar 30 anos, ou dos “Negros de Luz”, projeto do Maestro Jorge Salgueiro.
Atriz, cantora, formadora, encenadora, realizadora, criadora, produtora, agente de desenvolvimento local, ativista cultural e social, a Lola foi uma mulher sonhadora, arrebatada e multifacetada, que não deixava ninguém indiferente à sua passagem. As sementes que lançou nesta sua terra adotiva de Palmela deram fruto e continuarão a dar, pelas mãos das muitas pessoas que inspirou.
Reunida na Biblioteca Municipal de Palmela a 21 de agosto de 2019, a Câmara Municipal de Palmela lamenta o falecimento da Lola, sublinhando o seu grande contributo para o panorama cultural local, e endereça sentidas condolências à família, amigas/os, colegas e entidades com as quais colaborou».
Crédito fotográfico: FIAR Palmela | Alexandre Nobre.