Voto de Pesar - Jorge Sampaio

A Câmara Municipal de Palmela aprovou, por unanimidade, na reunião pública de 15 de setembro, um voto de pesar pelo falecimento de Jorge Sampaio, apresentado pelo PS.
Transcreve-se, abaixo, o texto integral do Voto de Pesar:
«Jorge Sampaio - de seu nome completo, Jorge Fernando Branco de Sampaio - nasceu em Lisboa, em 18 de setembro de 1939.
Desde a infância, fez estudos musicais e, por imperativo da carreira do pai, passou largo tempo nos EUA e na Inglaterra, experiência que o marcou muito. Frequentou os estudos secundários nos liceus Pedro Nunes e Passos Manuel.
Em 1961, licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Na Universidade, desenvolveu uma relevante atividade académica, iniciando, assim, uma persistente ação política de oposição à Ditadura. Foi eleito Presidente da Associação Académica da Faculdade de Direito, em 1960-61, e Secretário-Geral da Reunião Inter Associações Académicas (RIA), em 1961-62. Nessa qualidade, é um dos protagonistas da crise académica do princípio dos anos 60, a qual esteve na origem de um longo e generalizado movimento de contestação estudantil, que durou até ao 25 de Abril de 1974, e que abalou profundamente o Regime.
Como advogado teve um papel de relevo na defesa de presos políticos, no Tribunal Plenário de Lisboa.
Como opositor à Ditadura, candidatou-se, em 1969, às eleições para a Assembleia Nacional, integrando as listas da CDE.
Desenvolveu uma constante atividade política e intelectual, participando nos movimentos de resistência e na afirmação de uma alternativa democrática de matriz socialista, aberta aos novos horizontes do pensamento político europeu.
Após a Revolução do 25 de Abril de 1974, foi um dos principais impulsionadores da criação do Movimento de Esquerda Socialista (MES).
Desempenhou, nos anos da Revolução, um importante papel no diálogo com a ala moderada do MFA, sendo um ativo apoiante das posições do “Grupo dos Nove”. Em Março de 1975, é nomeado Secretário de Estado da Cooperação Externa, no IV Governo Provisório.
Ainda em 1975, fundou a “Intervenção Socialista”, grupo constituído por políticos e intelectuais, que viriam a desempenhar funções de relevo na vida pública, e que desenvolveu um significativo trabalho de reflexão e renovação política.
Em 1978, Jorge Sampaio aderiu ao partido Socialista. Em 1979, foi eleito deputado à Assembleia da República, pelo círculo de Lisboa, e passa a integrar o Secretariado Nacional do PS.
De 1979 a 1984, foi membro da Comissão Europeia dos Direitos do Homem no Conselho da Europa, realizando aí um importante trabalho na defesa dos Direitos Fundamentais e contribuindo para uma aplicação mais dinâmica dos princípios contidos na Convenção Europeia dos Direitos do Homem.
Foi reeleito deputado à Assembleia da República, em 1980, 1985, 1987 e 1991. Em 1987/88 é Presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, tendo assumido, em 1986-87, a responsabilidade das Relações Internacionais do PS.
Foi ainda co-Presidente do “Comité África” da Internacional Socialista.
No ano de 1989, foi eleito Secretário-Geral do Partido Socialista, cargo que exerce até 1991, e é designado, pela Assembleia da República, como membro do Conselho de Estado.
Em 1989 é eleito e depois reeleito, em 1993 no cargo de presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
Como Presidente da Câmara de Lisboa e à frente de uma equipa, afirmou uma visão estratégica, com recurso a novas conceções e métodos de planeamento, gestão, integração e desenvolvimento urbanístico.
De 1990 a 1995, exerce a Presidência da União das Cidades de Língua Portuguesa (UCCLA), sendo eleito Vice-Presidente da União das Cidades Ibero-Americanas, em 1990. Foi também eleito Presidente do Movimento das Eurocidades (1990) e Presidente da Federação Mundial das Cidades Unidas (1992).
Em 14 de Janeiro de 1996, é eleito, à primeira volta, Presidente da República Foi investido no cargo de Presidente da República, no dia 9 de março de 1996, prestando juramento solene.
Cumpriu o seu primeiro mandato exercendo uma magistratura de iniciativa na linha do seu compromisso eleitoral. Apresentou-se de novo e voltou a ser eleito à primeira volta, em 14 de janeiro de 2001, para um novo mandato.
Jorge Sampaio manteve, ao longo dos anos, uma constante intervenção político-cultural, nomeadamente através da presença assídua em jornais e revistas (Seara Nova, O Tempo e o Modo, República, Jornal Novo, Opção, Expresso, O Jornal, Diário de Notícias e Público, entre outros).
Publicou várias obras, nomeadamente, os seus discursos do período em que exerceu o Alto cargo de Presidente da República e uma outra intitulada “Olhar sobre Portugal” no qual responde a personalidades de vários sectores da vida nacional, configurando a sua perspetiva dos problemas do País.
Foi agraciado com várias condecorações e recebeu diversas distinções nacionais e estrangeiras.
Jorge Sampaio foi um político de causas e de valores, esteve sempre no lado dos mais desfavorecidos combatendo as desigualdades sociais, soube criar consensos, a ele se deve, em conjunto com outros políticos e embaixadores, o importante trabalho de diplomacia internacional que levou à independência de Timor -Leste.
Jorge Sampaio desempenhou importantes missões internacionais depois de ser presidente da república:
- Enviado especial das Nações Unidas para o combate à tuberculose; Alto representante do secretário geral da ONU na aliança das civilizações e constituiu a Plataforma global para os estudantes Sírios.
Portugal perde um dos seus melhores, um homem que não queria deixar ninguém para trás, que acreditava nas pessoas e que sofria e alegrava-se com os outros.
Reunida a 15 de setembro de 2021, em sessão pública, a Câmara Municipal de Palmela expressa o seu pesar pelo desaparecimento de Jorge Sampaio, à família, aos e às democratas. Saibamos honrar uma figura importante da História contemporânea de Portugal, um combatente, um inconformado, um humanista, um Português de corpo inteiro.
Obrigado, Jorge Sampaio!».
Créditos fotográficos: MPR