18 a 20 de fevereiro: conheça as sugestões do “Ver, Ouvir e Ler”!

O fim de semana de 18 a 20 de fevereiro traz novas sugestões online para “Ver, Ouvir e Ler”: o filme “Vontade Indómita”, de King Vidor (1949), o álbum “Laurel Hell”, de Mitski, e o livro “O Teu Rosto Amanhã”, de Javier Marías (2003).
Baseado no livro “The Fountainhead”, de Ayn Rand, “Vontade Indómita” é a história do artista maldito Howard Roark, interpretado por Gary Cooper, em luta contra a sociedade que rejeita a sua obra, da qual ele está absolutamente seguro, contra o gosto e as ideias comuns.
“Laurel Hell” é o sexto longa-duração assinado pela jovem Mitski, nascida no Japão. É um disco indie-pop, carregado de austeridade, eletrónica e muita ambivalência, feito de subtilezas e de ainda mais artifícios, onde a artista revisita uma carreira na qual sempre esteve no ar alguma turbulência e dilemas existenciais.
No romance “O Teu Rosto Amanhã”, o narrador da história, Jacques Deza, é contratado por um grupo misterioso criado pelo serviço secreto britânico. A sua tarefa consiste em ver e escutar as/os outras/os, decifrar personalidades e contar o que vê. Ele pertence ao grupo reduzido de pessoas que possuem um dom ou uma maldição: o de ver o que as pessoas farão no futuro, conhecer hoje como serão os rostos amanhã, saber quem nos trairá ou nos será leal.
Aceda aos canais digitais Palmela Município, onde pode encontrar as imagens de capa e mais informação sobre estas sugestões da Rede Municipal de Bibliotecas Públicas do Concelho de Palmela.
Sinopse VER
Vontade Indómita, de King Vidor. 1949
Só contra o Mundo
Baseado no livro The Fountainhead, de Ayn Rand, trata-se do artista maldito, Howard Roark, em luta contra a sociedade que rejeita a sua obra, da qual ele está absolutamente seguro. Em luta contra o gosto comum, contra as ideias comuns.
Este é o filme da desmedida e da determinação levada às últimas consequências.
Howard Roark, interpretado por Gary Cooper, é uma personalidade feroz de um arquiteto independente que dá mais valor aos seus ideais do que aos compromissos, sejam pessoais ou sociais. O amor, o dinheiro, a segurança não são as suas prioridades, nada se interpõe entre ele e a sua vontade. O arquiteto deve recusar tudo o que está em desacordo com a natureza e o caráter do homem.
Também fabulosa a atriz Patricia Neal.
Muito se escreveu sobre este filme, de leituras múltiplas, ligadas ao poder político e pessoal, ao épico, ao erotismo do poder, sacrificial e dominador, numa representação simbólica através de grandiosa fotografia.
Como escreve Mário Jorge Torres num excelente texto sobre o filme: «Metafísica e erotismo, arquitetura e cinema unem-se numa das mais demenciais representações da fúria do desejo. (…) No cimo do seu arranha-céus, Cooper não é tanto a imagem do arquiteto que submeteu a cidade mas a manifestação sublime da vontade do homem.» (Público, 25 de Janeiro de 2001).
O filme provoca sentimentos contrários. Por um lado a admiração da força da vontade indómita, por outro lado a recusa da personalidade totalitária, deste extremo nietzschiano. Mas também a certeza de quanto disto teve de estar presente em muitas das grandes obras da humanidade.
Sinopse OUVIR
MITSKI
Laurel Hell
Rumores dizem que, após ter gravado «Be The Cowboy», em 2018, Mistki havia tomado a decisão de abandonar o circuito musical, tendo já deixado para trás as redes sociais. Isto até ter percebido que o contrato com a editora a obrigava a gravar mais um disco. Porém, em vez de ter despachado o assunto de forma apressada e silenciosa, Mitski fez de «Laurel Hell» uma verdadeira missão, lançando-se numa extensa campanha de promoção a que seguirá, nos próximos meses, uma digressão a solo de 48 concertos, para além das honras de abertura a alguns concertos da tour de Harry Styles.
Nascida no Japão a 27 de Setembro de 1990, filha de um pai americano e de uma mãe japonesa, Mitski habituou-se desde cedo à mudança e à solidão, tendo vivido em 13 países diferentes antes de uma mudança definitiva para os Estados Unidos da América. Uma espécie de não pertença que sempre se refletiu na sua música, nas letras com uma forte componente pessoal e diarística ou na sua relação com os fãs, que está longe de corresponder ao estereótipo de uma relação funcional dos manuais musicais – talvez mais sincera e menos subserviente.
«Laurel Hell», o sexto longa-duração assinado por Mitski, é um disco indie-pop carregado de austeridade, eletrónica e muita ambivalência, feito de subtilezas e de ainda mais artifícios, onde Mitski revisita uma carreira na qual sempre esteve no ar alguma turbulência e dilemas existenciais. Um disco bem mais aberto – e um pouco menos diarístico - que o anterior «Be The Cowboy», mais comercial até, mas no qual o arsenal pop não se consegue – felizmente – livrar da escuridão lírica, em temas onde o espírito retro casa na perfeição com o futurismo inventivo de Mitski - que, nesta liga de compositores e compositoras, está claramente uns pontos à frente. Se este foi o final escolhido por Mitski, foi claramente o melhor dos finais.
Sinopse LER
O Teu Rosto Amanhã, de Javier Marías.
Dom Quixote, 2003
Javier Maríias é o grande romancista espanhol da atualidade, embora haja outros pesos pesados das letras espanholas.
Javier Marías, nascido em 1951, é madrileno, licenciado em Filosofia e Letras. Foi professor na Universidade de Oxford e na Universidade Complutense de Madrid.
«Uma pessoa nunca deveria contar nada», começa por dizer o narrador desta história, Jacques Deza. E, contudo, a sua tarefa vai ser precisamente o contrário, contar tudo, até o que não aconteceu ainda. É contratado por um grupo misterioso criado pelo serviço secreto britânico. A sua tarefa consiste em ver e escutar os outros, decifrar personalidades e contar o que vê. Ele pertence ao grupo reduzido de pessoas que possuem um «dom» ou uma maldição: o de ver o que as pessoas farão no futuro, o de conhecer hoje como serão os rostos amanhã, o de saber quem nos trairá ou nos será leal.
Com uma estrutura audaz e uma escrita envolvente, Javier Marias tece neste romance uma história densa e apaixonante que, recorrendo aos meios dos melhores romances de espionagem, é também, como o conjunto da sua obra, uma vasta meditação sobre a essência da natureza humana e sobre a verdade e a linguagem.
«Os romances de Marías são, também, sumamente elegantes. (…) Lê-los é um desafio e uma descoberta. E uma lição de vida para quem aceite a proposta de neles morar.»
António Lobo Antunes