Novas sugestões para “Ver, Ouvir e Ler” online

Há novas sugestões para “Ver, Ouvir e Ler” online (20 a 22 de maio): “A Palavra”, “We” e “Migalhas Filosóficas”.
Para ver “A Palavra” (1955), de Carl Dreyer, o penúltimo filme do realizador dinamarquês, sobre fé e com influências de Kierkegaard.
Para ouvir, “We”, dos canadianos Arcade Fire, o regresso aos discos originais, cinco anos depois de “Everything Know”.
Para ler, “Migalhas Filosóficas”, do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard, escrito em 1844, mas só traduzido e conhecido muito tempo depois. A obra aborda a questão da apreensão do conhecimento e contrasta o cristianismo com a teoria socrática da reminiscência.
Nos canais digitais Palmela Município pode encontrar as imagens de capa e mais informação sobre estas sugestões da Rede Municipal de Bibliotecas Públicas do concelho.
Sugestão VER
Sinopse
A Palavra, filme de Carl Dreyer, 1955
«Alguns leitores têm-me perguntado porque é que só falo dos filmes do tempo da Maria Cachucha. A reacção já eu a esperava, mas é típica das resistências à fé no cinema e ao amor do cinema. Se estas crónicas se chamassem “os livros da minha vida”, “os quadros da minha vida” ou “as músicas da minha vida”, ninguém levantaria a questão mesmo que eu escolhesse A Ilíada, A Crucificação de Cimabue ou o Combattimento di Tancredi e Clorinda de Monteverdi. Mal pareceria mesmo que deles não se falasse. Era sinal de que bem pobre fora a minha vida.»
João Bénard da Costa
In Os Filmes da Minha Vida
Ordet significa A Palavra em dinamarquês. Este é o filme da transcendência, tão grande que custa falar dele e apetece mesmo nunca falar. Perante o milagre é nosso dever preferir o silêncio.
O filme é sobre a Fé, sofrendo a maravilhosa influência do filósofo dinamarquês Kierkegaard, importante na vida de Dreyer. Foi o penúltimo filme do realizador e levou muito tempo a chegar a Portugal, apenas estreou por cá nos finais da década de 60.
Passa-se no campo. Um velho viúvo e os seus três filhos, sendo Mikkel, o mais velho, o único casado e pai de duas raparigas, uma ainda criança, esperando a mulher um outro filho. Todos são crentes exceto Mikkel. Um seu irmão perdeu a razão de tanto ler Kierkegaard, é o tonto da família, que se julga encarnação de Cristo. O velho pai deseja que o filho que a nora espera seja finalmente o neto varão que lhe falta. Inger, a nora, é o centro da casa e do amor de todos. O parto corre mal e o bebé, varão finalmente, morre à nascença, assim como morre Inger. É aí que o filme entra noutra substância de intensidade. O desespero do jovem cético Mikkel, o pêndulo do relógio parado pelo irmão mais novo, a estranha calma da criança que parece ver outra coisa e a entrada de Johannes na câmara, o irmão religioso delirante, agora outro homem… que ordena o que acontecerá.
João Bénard da Costa que escreveu tão bem sobre este e os outros filmes, citou São Paulo a propósito deste: maior do que a fé é o amor.
Esta fé vem desse amor.
Sugestão OUVIR
Sinopse
ARCADE FIRE
We
Depois de «Everything Now», longa-duração editado em 2017, muitos foram aqueles, entre críticos e ouvintes de longa data, que quase riscaram os Arcade Fire do mapa musical, acusando-os de se terem vendido ao sistema ou, simplesmente, de terem feito um disco onde a forma – diziam – ganhava por KO ao conteúdo.
Cinco anos depois, a banda regressa aos discos originais de forma triunfal: «We», o sexto longa duração destes canadianos – ou canadenses, se preferirem -, é um disco que, sem cair em saudosismos ou procurando repetir fórmulas, recupera de alguma forma a efervescência de «Funeral», muito provavelmente o disco indie rock mais perfeito e excitante da história.
Em tempos de guerra e de pandemia, os Arcade Fire escrevem sobre a conectividade humana e as relações pessoais, procurando uma vez mais compreender um mundo em constante mudança. O ceticismo continua a estar lá, mas há também uma mensagem de esperança e a ideia de que uma nova geração poderá, quem sabe, endireitar o mundo que lhes oferecemos.
Em «Unconditional I (Lookout Kid)», tema que Win Butler e Régine Chassagne escreveram para o filho, há esse apelo à revolta, à construção de uma individualidade que possa servir de abanão: “Look out kid, trust your heart / You don’t have to play the part / They wrote for you”.
O desejo de grandeza continua a estar presente mas, depois de um disco tão espalhafatoso como «Everything Now», é notória alguma contenção e despojamento (sobretudo na segunda metade do disco).
«We» é um disco capaz de levantar o espírito, fazer cócegas na alma e levar o corpo a uma perninha na pista de dança – ou na intimidade caseira -, mas é sobretudo um disco com muito coração lá dentro. O melhor disco da banda desde «The Suburbs».
Sugestão LER
Sinopse
Migalhas Filosóficas, de Soren Kierkegaard. Relógio d´Água
Soren Kierkegaard (Copenhaga 1813 – 1855), filósofo religioso, crítico do racionalismo, considerado o fundador do existencialismo, que mais tarde teve Sartre como um dos seus grandes nomes (ironias do destino), uma das mais renovadoras correntes filosóficas do séc. XX.
Segundo Kierkegaard o homem tem que renunciar a si mesmo para superar as limitações que a realidade lhe impõe e assim ascender a Deus e à verdadeira individualidade. São analisados os sentimentos de angústia e desespero inerentes à condição humana que anseia pela transcendência.
Migalhas filosóficas foi escrito em 1844, mas só foi traduzido e conhecido muito tempo depois daquela data. Aborda a questão da apreensão do conhecimento. Contrasta o cristianismo com a teoria socrática da reminiscência. Começa pela pergunta socrática: em que medida pode ser a verdade apreendida?
«Cada ser humano é ele próprio o ponto central, e todo o mundo se foca nele porque o conhecimento de si próprio é o conhecimento de Deus.»
Esta obra aprecia a diferença entre o modelo socrático-platónico da relação do mestre com o discípulo e o modelo cristão da relação «do deus» com «o aprendiz»; aprecia a questão do amor do Deus pelo homem, sendo que a «humilhação» é o que faz com que este não seja um «amor infeliz», pelo facto de deus descer na figura do «servo» sem deixar de encarnar o «maravilhoso»; debruça-se ainda sobre o tema do paradoxo, a diferença entre o «paradoxo socrático» e o «paradoxo absoluto».
Migalhas filosóficas ou uma migalha de filosofia. Anima-se a debruçar-se devagar sobre estes conceitos? Será menos difícil do que parece.
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