22 a 24 de abril: novas sugestões para “Ver, Ouvir e Ler” online

Há novas sugestões “Ver, Ouvir e Ler” online (22 a 24 de abril): “J´Accuse”, “Labyrinthitis” e “O Mundo à Minha Procura”.
Para ver, o filme de Roman Polanski “J´Accuse” (2019), um filme histórico, numa adaptação do romance “O Oficial e o Espião”, de Robert Harris, um mestre do romance de espionagem.
Para ouvir, o 13.º disco dos Destroyer, “Labyrinthitis”, banda que regressa a Portugal em julho.
Para ler, “O Mundo à Minha Procura”, livro de memórias de Ruben A., figura impar da cultura portuguesa (Ruben Alfredo Andresen Leitão), publicado em 3 volumes, pela Assírio & Alvim (2020).
Aceda aos canais digitais Palmela Município, onde pode encontrar as imagens de capa e mais informação sobre as sugestões da Rede Municipal de Bibliotecas Públicas do concelho de Palmela.
Sinopse VER
J´Accuse, um filme de Roman Polanski, 2019
O caso Dreyfus deu brado na França de finais do século XIX, dividindo a opinião pública e a Terceira República Francesa. O caso entrou na literatura dessa época. Marcel Proust fá-lo entrar no seu monumento literário Em Busca do Tempo Perdido, nas conversas de salão e nota-se a divisão que o caso provoca, sem naturalmente o analisar. Continua a ser um dos exemplos do velho antissemitismo e de como ele contaminou um processo judiciário.
Um filme histórico, numa adaptação do romance O Oficial e o Espião, de Robert Harris, um mestre do romance de espionagem. No dia 5 de Janeiro de 1895, o Capitão Alfred Dreyfus, jovem oficial judeu francês, é acusado de espionagem a favor da Alemanha e condenado ao degredo na ilha do Diabo. Entre as testemunhas está Georges Picquart, promovido para gerir a unidade militar de contra-espionagem. Mas quando Picquart descobre que informações secretas continuam a ser fornecidas aos alemães, desconfia de que algo não está certo e é arrastado para um labirinto perigoso de fraudes e corrupção, que ameaça a sua honra e também a sua vida.
Polanski mostra extraordinária mestria de realizador ao contar este caso exemplarmente no seu filme J´Accuse, com notável rigor histórico e técnica de narrativa clássica de cinema.
J´Accuse…! foi o título do artigo redigido pelo famoso escritor da época, Émile Zola, publicado no jornal L´Aurore, a 13 de Janeiro de 1898, uma carta aberta ao presidente da República Francesa, Felix Faure. Este artigo aconteceu porque Zola teve acesso ao dossier fornecido pelo escritor Bernard Lazare, e foi decisivo para retirar a condenação ao capitão Dreyfus, condenado a prisão perpétua estando inocente.
Ver uma longa-metragem até ao fim, sem conseguir pensar em mais nada, é ainda um excelente critério de avaliação. A não perder.
Prémio do júri no Festival de Veneza.
Sinopse OUVIR
DESTROYER - Labyrinthitis
Se há bandas que convidam à separação de águas, dividindo as margens entre fãs incondicionais (à esquerda) e haters de longa ou de curta data (à direita), os Destroyer são disso exemplo. Muito por culpa de Dan Bejar, o cérebro pulsante à volta do qual gira este indecifrável planeta, que junta à sua estranha forma de cantar – mais um contar – uma voz pouco sedutora e exageradamente teatral – ou, como apontam os críticos tapando as orelhas, algo irritante.
Em «Labyrinthitis», o 13º disco de estúdio, os Destroyer voltam a reinventar-se seduzidos pela eletrónica, mantendo o espírito críptico dos anteriores discos e fazendo, de cada tema, um puzzle por montar que poderá ter algumas peças em falta.
Gravado remotamente a partir das prestações de Bejar e companhia, coube a John Collins, produtor e multi-instrumentista, fazer de «Labyrinthitis» um disco. O resultado final representa uma gravação ao vivo, bastante dançante, onde a bateria de Joshua Wells – a que se juntam teclados dispersos, acordes elétricos e pulsantes malhas de baixo - parece ter ido sacar compassos aos melhores temas dos New Order.
Porém, mesmo que contagiado por um vibrante espírito disco, esta nova aventura sonora continua a ter a marca distintiva e misteriosa da banda, centrada num imaginário pop escondido num baú de (boas) sobras dos anos 1970 e 1980. O melhor disco da banda desde «Kaputt» (e talvez ainda melhor que este).
Dan Bejar e os Destroyer estão de regresso a Portugal, num concerto de apresentação de «Labyrinthitis» que terá lugar a 5 de Julho no MusicBox, em Lisboa.
Sinopse LER
O Mundo à Minha Procura, de Ruben A. Assírio & Alvim, 2020
Autobiography is the purest romance. Fiction is always closer to the reality than fact.
Henry Miller
(The Books in My Life)
Ruben Alfredo Andresen Leitão, nascido em 1920, formado em Ciências Histórico-Filosóficas, foi professor de liceu e leitor e professor no King´s College de Londres. Regressado a Portugal foi funcionário da embaixada do Brasil em Lisboa e nomeado administrador da Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Dá-se mal com a mesquinhez nacional. Em 1975 aceita o lugar de professor no Saint-Anthony´s College de Oxford e morre de ataque cardíaco uns dias depois de chegar a Londres, aos 55 anos. Sophia de Mello Breyner Andresen, sua prima, escreveu: Que tenhas morrido é ainda uma notícia desencontrada e longínqua e não a entendo bem.
Apresentamos Ruben A. porque foi uma figura ímpar da cultura portuguesa. Ficcionista, homem culto com múltiplos interesses, dramaturgo, historiador, crítico literário, divulgador cultural, escritor de fina ironia, estilo vanguardista muito próprio.
O Mundo à Minha Procura é um livro de memórias em 3 volumes. As memórias são um género pouco praticado em Portugal, o que é pena.
Eu ficara puro à espera do amor. Disse-me a mim que Ela tinha casado. O quê! Sim, foi há quase dois anos, na Primavera, quando se casa no Porto. Ia tão bonita de noiva.
O mundo fugira-me naquele momento. As casas tornaram-se baças, os jardins secos, queimados vivos, os seres petrificados, as almas em busca de um norte que eu não sabia onde pairava. Por ali eu entrara, dali eu saíra. Ainda sofria. A pele arrepiada, as portas fechadas, janelas corridas, silêncio de um momento a sós em que o espírito parece Deus. Como era possível Ela ter casado?
…
Ela casada? Sim, meu filho da Mãe, casou-se para arrumar o fim da guerra. E a quem tinha de pedir autorização? Não era a mim, pedaço de asno a fazer cortesias, pateta das luminárias a representar de bobo no palácio de Cascais. Ela estava de perfil, quase silenciosa, ouviam-se palavras de viés, de quase amor. Com quem? E a noite de núpcias?
(excerto do III volume)