28 a 30 de janeiro: novas sugestões para “Ver, Ouvir e Ler” online
As primeiras sugestões do “Ver, Ouvir e Ler” online para 2022 (28 a 30 de janeiro) são: “A Última Sessão”, “Manoel” e “Juan Rulfo-Obra Reunida”.
Para ver, o filme do norte-americano Peter Bogdanovich “A Última Sessão”, obra-prima do realizador, que rodou com 32 anos e que teve 8 nomeações para os Óscares. Filme a preto e branco, retrato do velho Oeste nos anos 50 e das suas duras realidades.
Para ouvir, “Manoel”, dos Sensible Soccers, o quarto longa-duração desta banda nacional, nascida em Vila do Conde, editado em 2021 e composto por 10 temas que dialogam com filmes de Manoel de Oliveira.
Para ler, “Juan Rulfo – Obra Reunida”, com o essencial deste elogiado escritor latino-americano: “Pedro Páramo”, El Llano em Chamas” e “O Galo de Ouro”.
Aceda aos canais digitais Palmela Município, onde pode encontrar as imagens de capa e mais informação sobre as sugestões da Rede Municipal de Bibliotecas Públicas do concelho de Palmela.
Sinopse VER
A Última Sessão, um filme de Peter Bogdanovich, 1971
O americano Peter Bogdanovich morreu no passado dia 6 de Janeiro, aos 82 anos.
Foi um grande senhor do cinema de várias formas. Realizador, crítico, historiador de cinema, muito conhecido no meio, amigo de muita e brilhante gente, nomeadamente de Orson Wells sobre quem escreveu o livro Este é Orson Wells. Realizou também documentários sobre cinema, como o Tributo a John Ford, verdadeiro clássico sobre Hollywood. Era um espetador obsessivo de filmes. Como crítico notabilizou-se na revista Esquire.
Dos filmes que realizou destacamos a adaptação de um romance de Henry James, Daisy Miller, não muito bem acolhido pela crítica, mas que nos parece muito bom e bem dentro do espírito Henry James, escritor que se recomenda.
A sua obra-prima, A Última Sessão - The Last Picture Show, que rodou aos 32 anos, ao que parece um dos filmes preferidos de Tarantino. Teve 8 nomeações para Óscares.
Trata-se de um filme triste, sobre o vazio e a perda. Em 1951, numa pequena e decadente cidade do Texas, no pós-guerra, um grupo de adolescentes tenta, num mundo vazio, encontrar alguma coisa como amizade, iniciação ao sexo, desporto no clube da terra. As únicas diversões da cidade são o salão de bilhar e a sala de cinema onde se vai ver filmes e namorar no escuro.
A rapariga mais bonita da cidade é Jacy, interpretada por Cybill Sherpherd (lembram-se dela na série Modelo e Detective?), aqui muito jovem. Os dois amigos Sonny e Duane apaixonam-se por ela. O embaraço no amor, nenhuma desenvoltura, medo e deceção, rivalidade e fracasso.
O mundo está a mudar e muitas coisas acabam. Todos se vão embora, para a guerra da Coreia, para a Universidade, um giro até ao México… o cinema da terra fecha, o convite para a última sessão tem um sabor amargo. O olhar de Sonny (Timothy Bottoms) perante o desencanto e brutalidade, desejoso de um milagre, e o seu inocente amigo Billy, o adolescente mudo a quem ternamente sempre põe o boné para trás, desarma-nos.
O luto pelo fim do cinema como ele foi. Um filme que só podia ser a preto e branco, retrato do velho Oeste nos anos 50 e das suas duras realidades.
Sinopse OUVIR
Manoal, dos SENSIBLE SOCCERS
Em 2021, no ano em que se assinalaram os 90 anos sobre a estreia de «Douro, Faina Fluvial» (1931), os Sensible Soccers concretizaram um desejo antigo: o de compor uma banda sonora para este filme, a estreia cinematográfica do realizador Manoel de Oliveira. Juntaram também «O Pintor e a Cidade» (1956), constituindo ambos uma espécie de díptico fraturante e cheio de oposições sobre os passeios de Manoel pela bela cidade Invicta, em momentos temporais e lugares distintos.
Uma vontade que, segundo a banda, ganhou forte embalo depois de, em 2017 e no âmbito do festival Close-Up de Famalicão, se terem divertido a compor uma banda-sonora para «O Homem da Câmara de Filmar» (1929), o imaculado clássico de Dziga Vertov. O resultado dá pelo nome de «Manoel», o quarto longa-duração da banda e um dos grandes discos nacionais editados em 2021.
Este não é, porém, um disco pensado para servir de complemento às imagens, ou desenhado como uma banda-sonora para acompanhar os filmes frame a frame. É, antes, um disco em diálogo mas autónomo dos filmes que os inspiraram, no qual a banda nascida em Vila do Conde decidiu, nas palavras de Hugo Gomes numa entrevista ao jornal Público, “tratar o Manoel de Oliveira por tu”.
Gravado na Arda Recorders e co-produzido pela banda e João Brandão, «Manoel» é composto por dez temas que dialogam com os filmes para depois seguirem o seu próprio caminho. Um caminho que tanto se perde nas malhas do jazz, se encanta pelo desígnio pop, se deixa seduzir pelo experimentalismo ou, ainda que longe do frenesim de discos como «Aurora», convide a um salto à pista de dança. Um disco onde os Sensible Soccers reafirmam o seu estatuto de banda cinemática, mostrando que são uma das mais inventivas e originais bandas dos últimos anos.
Sinopse LER
Juan Rulfo, Obra Reunida (Pedro Páramo, El Llano em Chamas, O Galo de Ouro). Cavalo de Ferro
Vim a Comala porque me disseram que vivia aqui o meu pai, um tal Pedro Páramo. Foi minha mãe quem mo disse. E eu prometi-lhe que viria vê-lo quando ela morresse. Apertei-lhe as mãos como sinal de que o faria pois ela estava à beira da morte e eu disposto a prometer-lhe tudo.
- Assim farei, mãe.
Mas não pensava cumprir a minha promessa. Até ter começado, há muito pouco tempo, a encher-me de sonhos, a dar asas às ilusões.
Hoje é Juan Rulfo que nos chama. Nasceu no México em 1917 e teve uma infância muito dura. Era o tempo da Revolução Mexicana e o lugar onde vivia foi totalmente destruído. Palavras suas: «Desde o meu pai e minha mãe, inclusive todos os irmãos de meu pai foram assassinados. Vivi, portanto, numa zona devastada. Não apenas de devassidão humana, mas devassidão geográfica. Nunca encontrei até à data uma lógica que explique tudo isto. Não se pode atribuir à Revolução. Foi uma coisa mais atávica, uma coisa de destino, uma coisa ilógica (…) porque nesta minha família sucederam nessa forma, e tão sistematicamente, essa série de assassinatos e de crueldades» in Los muertos no tienen ni tiempo ni espácio, diálogo com Juan Rulfo.
Rulfo passou a infância num orfanato. Mais tarde tornou-se funcionário de uma empresa e um pai de família, com o gosto pela fotografia que praticava a alto nível. Este modesto e reservado funcionário foi o escritor latino-americano mais elogiado e venerado pelos seus pares. Talvez Gabriel Garcia Márquez não tivesse escrito se um dia não tivesse tropeçado com a novela Pedro Páramo, e assombrado o lesse até o decorar. Nele encontrou o caminho.
Até Jorge Luís Borges o venerou.
E no entanto Juan Rulfo escreveu pouquíssimo! À semelhança de Rimbaud, que até aos dezanove anos escreveu tudo o que se sabe e não escreveu mais nada até à morte, o que não o impediu de ser Rimbaud para sempre, também Rulfo escreveu uma novela, contos e parou. Quando lhe perguntavam porque não escrevia, respondia: porque morreu o meu tio Celerino, que era quem me contava as histórias. Esse tio existia realmente. Era bêbado, crismava crianças por lugares perigosos para ganhar a vida, sendo ateu, e contava histórias ao sobrinho. Rulfo deixou a literatura assim que o tio morreu e o seu silêncio tornou-se inquietante e mítico.
Neste livro está o essencial da sua obra. O México, a alma mexicana na sua obsessão com a morte. O fim e o princípio de tudo. É importante sorver este manancial.
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