18 a 20 de março: novas sugestões para “Ver, Ouvir e Ler”

As sugestões “Ver, Ouvir e Ler” online para este fim de semana (18 a 20 de março) são: “O Princípio da Incerteza”, “DakhaBrakha” e “Jóia de Família”.
Para ver, “O Princípio da Incerteza” (2002), um filme de Manoel de Oliveira, reflexo da parceria criativa portuguesa mais profícua entre literatura e cinema no séc. XX – Manoel de Oliveira e Agustina Bessa-Luís - ambos do mesmo meio sociocultural do Porto e da região do Douro.
Para ouvir, a banda ucraniana “DahaBrakha”, quarteto musical pertencente à “World Music”, criado em 2004.
Para ler, “Jóia de Família”, (2001), de Agustina Bessa-Luís, o primeiro volume de uma trilogia – O Princípio da Incerteza, escrito aos 80 anos de idade e distinguido com o Grande Prémio do Romance e da Novela da APE, em 2001.
Aceda aos canais digitais Palmela Município, onde pode encontrar as imagens de capa e mais informação sobre as sugestões da Rede Municipal de Bibliotecas Públicas do concelho de Palmela.
Sinopse VER
O Princípio da Incerteza, um filme de Manoel de Oliveira. 2002
O destino troca as voltas cruelmente a quem tenta corrigir a sorte.
Foi recentemente lançado um livro na Casa do Cinema, em Serralves, no Porto, denominado O Princípio da Incerteza, que nos vem recordar a colaboração criativa portuguesa mais profícua entre literatura e cinema no séc. XX: Manoel Oliveira e Agustina Bessa-Luís, ambos pertencentes ao mesmo meio sociocultural do Porto e da região do Douro.
Começou esta colaboração em 1981 com o filme Francisca, baseado no livro Fanny Owen, e prolongou-se até 2005 com o filme Espelho Mágico.
Manuel de Oliveira, aos 94 anos, pega no primeiro volume da trilogia O Princípio da Incerteza, Jóia de Família, que introduz o lado escuro de crime e degradação que entra nas famílias burguesas tradicionais do Norte, a que Oliveira e Agustina pertencem, para fazer este filme complexo.
Realizará ainda Espelho Mágico, em 2005, adaptando o segundo volume da Trilogia, A Alma dos Ricos.
Sobre as escolhas para a realização de O Princípio da Incerteza, Manoel de Oliveira dirá numa entrevista a Jean-Marc Lallanne e Charles Tesson:
«Leonor Baldaque, que interpreta Camila, é neta de Agustina Bessa-Luís. A escritora, que escreveu o romance, pode assim ver-se no filme através da sua neta. E encontramos qualquer coisa da avó na maneira como a neta está no écran. Alguma coisa que, creio eu, não gostava muito nela própria e que, no entanto, era verdadeiramente ela própria. Do mesmo modo, Touro Azul é interpretado pelo meu neto, Ricardo Trêpa. Neste filme quis que ele tivesse muitas semelhanças comigo quando tinha a sua idade. É um rapaz desportivo, vigoroso, que faz corridas de automóveis. Descrevo isto, a presença da escritora e do cineasta no filme através dos seus netos e, ao mesmo tempo, será que deveria fazê-lo? Não sei. É isto o princípio da incerteza.» (Cahiers du Cinéma, nº 571)
Participam Leonor Baldaque, Leonor Silveira, Isabel Ruth, Ricardo Trêpa, Ivo Canelas, Luís Miguel Contra, Diogo Dória, e mais.
A amizade de dois rapazes pertencentes a classes diferentes, o filho da família e o filho da criada, irmãos sem o saber, tornam-se amigos. O segundo está envolvido em negócios de droga e frequenta casas de alterne e o crime sustenta altos hábitos de consumo. O Mal irrompe nesta obra e existe Camila, a pedra de toque, filha de uma família de vinhateiros falidos, que parece incorruptível, dada ao sacrifício de um casamento oportuno. A pose, os gestos, o vestuário, as palavras, tudo a distingue. Mas o bem não existe sem o mal.
Sinopse OUVIR
DakhaBrakha: a banda ucraniana que nos ensina a dar e a receber
Quarteto musical formado em Kyiv, na Ucrânia, os DakhaBrakha são uma banda pertencente à chamada «world music», que combina estilos de vários universos musicais e de diversos grupos étnicos. Em estúdio e ao vivo, os DakhaBrakha fazem-se acompanhar por instrumentos tradicionais dos quatro cantos do planeta, que ajudam a criar aquilo a que chamam, acertadamente e com orgulho, de caos étnico.
Tendo começado a sua aventura no território da folk ucraniana, a banda formada por Marko Halanevych, Iryna Kovalenko, Olena Tsybulska e Nina Garenetska acabou por lhe juntar ritmos provenientes de várias geografias, criando um território único e transnacional que mostrou, ao mundo, as melodias, a música e as raízes ucranianas, com uma roupagem onde a tradição se cruza com a modernidade e o espírito de aventura.
A própria palavra DakhaBrakha surge de um jogo de linguagem, resultado do infinitivo dos verbos «dar» e «receber». A banda foi criada em 2004, no Centro de Arte Contemporânea DAKh, pelo seu muito avant-garde diretor Vladyslav Troitskyi, que fez com que o teatro deixasse a sua marca na banda - sobretudo nas atuações ao vivo e no lado cénico. Aliás, os membros do DakhaBrakha participam, igualmente, noutros projetos do Centro, entre os quais está o projeto feminino de cabaret Dakh Daughters.
Da sua incrível discografia, da qual fazem parte alguns temas incluídos em bandas-sonoras, encontram-se os álbuns «Yahudky» (2007), «Na Mezhi» (2009), «Light» (2010), «Khmeleva Project» (2012), «Шлях» (2016) e o mais recente - e obrigatório - «Alambari».
Sinopse LER
Jóia de Família, de Agustina Bessa-Luís. Guimarães. 2001
Quando temos uma coisa santificada
E muito pura
Ela só se torna interessante quando combinada
Com elementos grosseiros.
Takemitsu – compositor
«Não se escreve melhor porque se escreveu muito», diz o narrador. Somos levados a pensar o contrário de Agustina Bessa-Luís, que talvez por esta altura afirmava escrever com uma facilidade indecente.
Agustina escreveu Jóia de Família, o primeiro volume de uma trilogia – O Princípio da Incerteza – aos 80 anos de idade, romance que foi distinguido com o Grande Prémio do Romance e da Novela da APE, em 2001. O princípio da incerteza é um conceito roubado à Física Quântica.
Tudo começa pela troca de crianças, que é um tema antigo na literatura clássica e na tradição oral.
Rute Clara conhecendo o testamento do tio, que daria em herança todos os seus bens ao sobrinho que nascesse na casa de família, na Quinta do Salto, decide dar à luz o terceiro filho nesse lugar. A criança nasce morta e a criada, Celsa Adelaide, que assiste ao parto, troca-a pelo seu próprio filho, nascido dias antes. Pretende assim evitar um drama e principalmente dar uma vida próspera ao seu filho, que de outra forma nunca poderia ter. Esse rapaz recebeu o nome de António Clara.
António Clara e José, o segundo filho da criada, tornam-se amigos e partilham tudo desde crianças. António casa com Camila, por quem José está desde sempre apaixonado, e tem Vanessa como amante, a sócia de José tem negócios escuros. Camila, a jóia de família, a presença diferente, a nota dissonante nesse meio sujo, ao mesmo tempo submissa e rebelde.
Agustina nunca antes tinha abordado este tipo de personagens. Um olhar sobre os nossos dias e a nossa civilização, numa sociedade invadida pela delinquência relacionada com a droga, a prostituição e a corrupção, que trazem lucro fácil para sustentar consumos que não seriam acessíveis antes. Este foi o tempo do incêndio na discoteca Mea Culpa em Amarante, que de certa forma, também tem lugar no romance.
Os grandes enigmas do Homem, os brilhantes aforismos que destroem as nossas ideias mais assentes e a qualidade genial da escrita são os motivos para ler Agustina.